segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A antiga frase "o homem é um ser  racional", muito usada ao nos referirmos sobre o que somos, sobre nossa natureza, apenas contém meia verdade. Pode representar uma valorização da nossa capacidade de raciocinar em termos lógicos, mas, em relação a nossa natureza íntima não é tudo. O ser humano é racional e emocional. E não é possível uma separação completa destes dois aspectos do nosso ser.

Onde estivermos, o que fizermos, seja trabalho, lazer ou qualquer atividade, sentimentos, emoções e a nossa capacidade intelectual estarão presentes. Eles são a base de tudo que construímos, de nossas atitudes em relação ao meio que nos cerca, de nossas aspirações e iniciativas. Por mais fria que seja uma jogada em um tabuleiro de xadrez, o jogador sentirá uma satisfação imensa ao saber que ela o conduzirá ao xeque-mate. Um matemático dará "pulos" de alegria ao resolver um problema há anos sem solução. E um empreendedor estará orgulhoso e contente ao terminar de construir uma empresa na qual dedicou anos preciosos de sua vida.

Uma parte de nosso cérebro, o sistema límbico, é o responsável pelo nosso aspecto emocional; o córtex cerebral é a porção responsável pela nossa lógica e ambos funcionam em conjunto como citei indiretamente acima. Ora agimos racionalmente, ora pelo lado sentimental, mas, igual a uma balança a não pender só para um lado, esses dois componentes sempre estarão presentes.

Nossa capacidade intelectual leva-nos a construir tudo aquilo até onde a nossa lógica permite; e nossos sentimentos, nossas emoções, são o combustível para tanto. Combustível porque um sistema como o nosso cérebro, de longe o mais complexo que existe, funciona de modo lógico dependendo de suportes como motivação, iniciativa, imaginação, coisas que consomem energia.

Devido ao fato do cérebro ser do jeito que é, do modo como trabalha, vivemos intensamente tendo ideias, realizando-as, sonhando, buscando formas e meios para o nosso bem estar e  uma pessoa com algum desequilíbrio emocional está momentaneamente incapaz de levar uma vida plena em realizações. A depressão, por exemplo, não permite a ninguém produzir sequer uma pequena parte de trabalho a qual está acostumada.

Você já se perguntou, pensando em um dia de trabalho, por quantos estados emocionais você passou? Pelos sentimentos envolvidos em todas as suas ações? Na verdade nem paramos para pensar nisto, de tão natural que estas coisas são para nós. Nosso dia a dia de trabalho não é só racional, e nem poderia ser... Trabalhamos sempre de duas maneiras simultâneas: pensando, e esse é nosso lado racional, e deixando que nossos sentimentos nos guiem, avaliando nossas ações e impulsionando-nos mesmo se não gostarmos daquilo que estivermos fazendo. E um resultado de trabalho envolve uma carga racional e emocional muito grande.
           
Os sentimentos estão sempre a nos acompanhar porque existe, e nunca podemos perder em nossas aspirações, algo talvez mágico em nossa natureza humana: vontade.  Quando temos vontade em realizar algo, nosso lado racional atua no sentido de deliberar, resolver como fazer, para daí tomarmos uma decisão e partirmos para a ação. Veja que nestas palavras também estão envolvidos os sentimentos: decidimos pelo lado afetivo, quando nos deixamos levar pelas nossas  emoções, decidimos pela razão, quando do contrário, e decidimos em um conjunto destas duas coisas e muitas vezes nem questionamos os pesos de cada uma delas.
           
Nosso mundo é competitivo, desafiador, repleto de informações e novidades. Decidimos muitas coisas em poucas horas, nos deparamos com pequenas coisas que acumuladas e não resolvidas poderiam nos gerar pânico, fazemos o possível para realizar um bom trabalho naquilo em que estamos empenhados. Enfim, recebemos uma forte pressão, seja de um superior em nosso trabalho ou mesmo internamente, de nós mesmos. Ao decidirmos sobre qual ação a tomar para resolver um problema, estamos inexoravelmente traçando um caminho, um "destino", que nos levará talvez a um ponto sem volta; daí, nada melhor que irmos com calma, pensando em possíveis resultados, em nossos objetivos, etc.
           
Nossos resultados dependerão de muitos fatores, mas, quaisquer que sejam eles, nossas decisões devem sempre estar calcadas em ponderações, em atitudes e posturas coerentes com nossos objetivos. O controle emocional entra como um forte componente para que não chegamos a resultados desastrosos. Sim, agir quando estamos sobre forte emoção não nos leva a nada; pode apenas complicar as coisas.
           
Evidente é o caráter benigno de um desabafo frente a situações que nos fazem perder momentaneamente o controle emocional, mas, não nos descontrolamos todo o tempo. Não “explodimos” sempre que uma situação desafiadora aparece em nossa frente. Desta maneira estaríamos doentes e o melhor a fazer seria um tratamento.

Somos levados em nossas realizações por sentimentos positivos onde ocorre, além da realização em si, um crescimento interior culminando em um amadurecimento como ser humano. Se um dos sentidos mais fortes para a vida é o de construção, razão e sentimentos, em ponderação, estão em primeiro lugar.


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Artigos relacionados a este na revista Cérebro&Mente (www.cerebromente.org.br) da UNICAMP:



"A Base Material dos Sentimentos - II" - http://www.cerebromente.org.br/n13/opiniao/material.html

"The Material Basis of Feelings - II" - http://www.cerebromente.org.br/n13/opiniao/material_i.html

"O Porquê dos nossos Sentimentos - II" - http://www.cerebromente.org.br/n15/opiniao/sentimentos2.html

"Our Feelings. Why Do We Have Them? - II" - http://www.cerebromente.org.br/n15/opiniao/sentimentos2_i.html

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